sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Olá Tristeza, até já.

O pior choro é aquele em que não se derramam lágrimas, e é assim que choro por ti, não sei porquê mas é, nem sequer sei porque choro quando sou eu que nos mato, sou eu que espeto a única faca no combate do nosso amor que nunca chegou a ser unificado, sou eu que digo as expressões que dizem tudo e nada, mas significam mais nada que tudo.
Esta faca que me mata a mim e a ti é longa, longa como a distância que nos separa e nos afasta, aproximando-nos do fim do início de outro combate que de certeza temos que travar, e é tão pontiaguda como a baioneta que acabou com o combate que travávamos e que fez com que caíssemos no fatal descanso do mortal conforto da nossa almofada.
O veneno que me põe ébrio é tão forte como o perfume que me atraiu para a armadilha que me amputou o pé e a corda que me marcou o pescoço e tirou o ar, mas a que ainda sem forças consegui sobreviver só para beber mais um trago desse veneno.
E no fim de estar no descanso imposto pela faca e cheio de fármacos que me são impostos pela sociedade, penso em mim e em ti, não em nós, mas em ti e em mim e quando me perguntam se dói respondo


"Só dói quando respiro."








Olá Tristeza, até já.

domingo, 24 de outubro de 2010

Peças IV

Tranquei-me a sete chaves para que eu pudesse sair à rua.

Peças III

Não choro os mortos que estão no caixão, choros antes os mortos a que ainda lhes bate o coração.

domingo, 10 de outubro de 2010

When you ain't got no honey, you've got the blues

Hoje não quis acordar, simplesmente achei que não era digno de pertencer ao fruto dos ramos da árvore que dá a vida, nada fazia sentido, já não tinha mais nada para sentir, ver, ouvir, dizer, criar, por isso a solução mais sensata seria sair daqui. Foi como se entendesse todos aqueles que enfiaram uma bala no crânio ou uma lâmina no pulso ou encheram o estômago de químicos até que vomitassem o próprio estômago lentamente e degustando o sabor de morte fresca temperada com sangue, e eu acho que por segundos senti esse sabor, e nesses segundos, ainda houve um momento em que gostei, e nos segundos em que gostei, houve uma ínfima parte, uma partezinha daquela parte que complementava aquela pequena parte em que senti o sabor da morte, que amei mais do que amo qualquer coisa, pessoa ou sentimento, foi o melhor momento da minha vida. O momento em que provei um sabor já familiar e que eu já sei que gosto, o sabor da loucura.

A Loucura... de pele branca, e cabelo loiro com os olhos mais bonitos que tu alguma vez viste na tua vida, no teu passado, presente e futuro, é a mulher mais louca deste mundo, consegue pegar naquilo que tu aches mais belo, encantador e hipnotizante, e transformá-lo em putrefacto, repugnante e cheio de banhas, consegue fazer-te ver pegadas no tecto e mais do que isto tudo, se lhe souberes pedir, muito, mas muito devagar, ela faz-te ver o verdadeiro, o único e real amor.

Mas enquanto beijo os lábios suaves da Loucura, lembro-me da minha fuga da árvore da vida e começo a correr, mas há algo que me prende, e vejo que sou preso não por um grilhão, corda ou músculo, mas sim por um simples brilhar, o brilhar dos teus olhos inchados e encharcados de lágrimas (tal como a minha alma), esses olhos que não me deixam mexer, agora que já estou hipnotizado por eles, as minhas mãos estão atadas com os teus cabelos e eu sou adormecido pelo teu cheiro.

E é aí que percebo, que não posso fugir da árvore da vida, porque compreendi agora que tenho que a trepar, para depois escalar os penhascos do sofrimento para me sentar nas planícies da amizade e sentir o vento do amor. Mas não o posso fazer sozinho, tenho que esperar por ti porque é impossível subir a árvore da vida e os penhascos do sofrimento sozinho.

Mas já disse ao Diabo que me ia matar, e é por isso que fiz um pacto com ele
-Todos os dias farei um corte no meu peito, se me deixares voltar atrás para ir ter com ela.

-Mas apenas quando tiveres cem cortes, poderás ver a sua pele e sentir o seu cheiro.


-Feito

-Feito


E sei que um dia, se o Diabo quiser, vou pegar na tua mão e trepar a árvore da vida, escalar os penhascos do sofrimento, sentar-me nas planícies da amizade e sentir os ventos do amor contigo.

Mas até lá, tenho que viver a minha vida, um corte de cada vez...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Nirvana

Todos falam de chegarmos a algum sítio, de fazermos algo, de escalar uma grande montanha por exemplo, ou de fazer uma avassaladora caminhada, todos falam em nirvanas, picos existenciais e concretizações pessoais, mas no meio destes "sábios" todos, não há um, uma única alma que fale no que é suposto fazer depois de chegarmos à montanha, ou de acabarmos a caminhada, e eu, na minha enorme minoria, pergunto simplesmente porquê?

Será porque não conseguiram? Se calhar não, há montanhas tão difíceis e caminhos tão tenebrosos que não ficaria nada espantado se não conseguissem, e como não conseguiram, não conseguem contar como foi conseguir, porque não conseguiram. Ou até conseguiam, mas morreram pelo caminho, mas acho que isso faz com que não conseguissem...

Mas será que há gente que conseguiu? O quê? Há?! Então se conseguiram por que não nos dizem o que fazer? Será que é pior do que estamos à espera? Será que no cume da montanha é frio e solitário, e temos que respirar ar rarefeito e, afinal de contas, devemos ter pouco equilíbrio, porque aquilo deve ser um bocado inclinado. E se calhar aquelas pessoas que querem escalar uma montanha no fim estão à espera de um sítio fofo e quentinho, e plano já agora, e as outras pessoas que já conseguiram não dizem o que a montanha é de verdade, talvez para não as desiludir, ou porque encontram alguma espécie de gozo em verem as outras pessoas subirem, para depois ficarem desiludidas.

Mas ainda podemos ter outra hipótese, aqueles, que chegaram ao cume da montanha, e acharam uma beleza naquilo e queriam contar a todos a beleza daquele sítio àrido, mas morreram ou enlouqueceram, devido à beleza retorcida e bizarra daquele sítio que tinha ventos rápidos e calmos, acompanhados de um frio acolhedor e familiar, e tudo era bom ali, estar sem comida, àgua e a carregar dois cadavéres de amigos teus era simplesmente perfeito, naquele lugar tão íngreme como a minha sanidade...

Mas a minha principal questão é por que é que o meu maior feito tem que ser estar com frio fome e sede a não sei quantos metros de altura? Por que raio há-de ser o meu cume existencial sair de uma selva débil e fraco quase a desmaiar e com os pés numa bolha? Porquê? Não posso simplesmente querer ser, viver, estar? Por que é que o meu Evereste não podem ser os teus lábios? Um sorriso teu quando dermos o último beijo, ou o teu cheiro que eu não quero perder?
Por que raio não pode ser o meu maior feito amar-te?

Eis que então, movido pela minha ingénua coragem, avanço caminhando para os teus beijos e escalando para os teus sentimentos, e chego ao cume, eu chego ao teu cume, sentado no topo do meu mundo, tal como tu chegas ao meu cume, sentada no topo do teu mundo! Mas sabem uma coisa?

Comparado com isso, o Evereste é um degrau de uma escada, a escada na qual eu estou no topo. Agora imaginem onde eu estou...



Obrigado.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

(mais) Peças

Não sou realista, a realidade é uma merda.

Turbo Lento

Estou sujo de ti, e não me quero lavar, não quero que o teu cheiro saia do meu, tenho medo de o esquecer, tenho medo de perder os teus cabelos que estão presos nos meus, tenho medo de ficar demasiado tempo sem te beijar e de perder a tua saliva, tenho medo de te esquecer, porque sei que é possível, e se me lavar vou ficar sem o teu cheiro e os teus cabelos, e como te vou esquecer, nada me vai ligar a ti, e vai ser como se nunca tivesses existido!

Por isso fujo numa tranquila turbulência, fujo da minha mãe, porque se ela me encontra, vai-me obrigar a tomar banho, e eu vou-te esquecer, e eu não te quero esquecer!

Escondo-me nos recantos mais obscuramente negros da alma da minha mente, junto daquele Eu que ninguém conhece, ninguém mesmo, nem eu, nem Deus... Bem, talvez Deus já o tenha visto e dito olá, mas foi só uma vez.

E enquanto estou escondido, desfruto do teu cheiro que está em mim, degustando ainda mais pelo facto de ser proíbido, pelo facto de ser suposto eu já ter tomado um belo banho com shampôs de marcas e bolhinhas bem cheirosas, acompanhadas de esfregadelas bruscas e suaves espumas sob àguas não naturais de tão bem que cheiram.

Mas, se tu voltares a abraçar-me e, quem sabe, a beijar-me eu posso tomar banho porque mesmo que perca o teu cheiro, vou voltar a tê-lo, através do teu abraço, e para ir ter contigo, tenho que tomar banho, caso contrário, não vais querer abraçar-me.

E então eu, que estou no recanto mais escuro da alma da minha mente, fico sem saber o que fazer, se morro cá a desfrutar do teu cheiro, ou se me entrego às vis garras da minha santa mãezinha e o seu maléfico sabão.

E é então que me lembro de uma coisa que a minha mãe me disse...


Podes fugir mas




nunca



te vais





poder








ESCONDER

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Peças

Aclamados sejam os ébrios de espírito, pois só eles contrariam a sobriedade da cultura moderna

quinta-feira, 15 de julho de 2010

As estantes da taberna.

As estantes da cultura estão vazias com o ar da estupidez e o pó da ociosidade. E não há viv'alma que as encha com o prazer de fazer e criatividade, não há quem faça por fazer, não há quem faça para fazer, em vez disso fazem para mostrar que são, que têm cultura, e estes pseudo-pseudos(porque são tão pseudos que não chegam nem a ser nada sequer) têm tanta cultura, que de tanto ter, esvaziaram as estantes!

E o que é que estes cretinos vão fazer com a cultura que tiraram toda das estantes? Comem-na, enfardam-na como se não houvesse o próximo amanhecer, e têm que comer toda a cultura das estantes da cultura nesta noite. Em vez de pegarem em toda a cultura das estantes e partilhá-la fazendo com que todos tenham um bocado de cultura, estes idiotas chapados são egoístas e comem a cultura toda e, como manda o processo natural digestivo animal a cultura é transformada em merda, e agora, toda a cultura que tinhamos, está nos esgotos, em formato castanho e nojento, e a cultura, que era tão venerada pela sociedade, é agora rejeitada, posta debaixo dos nossos pés para todos a calcarmos e todos sermos superiores à cultura, todos mesmo, sim, toda a gente, até esse.

E é impossível repor a cultura toda nas estantes, porque aqueles que tinham um bocadinho de cultura, que foram buscar à estante está guardada, não num pedestal, mas dentro de nós, absorvida pelos nosso olhos, ouvidos e mente, essa cultura deixou de estar nas nossas mãos, e passou a estar em nós, essa cultura somos nós.

E nós como cultura que somos, não podemos ir e ficar parados na estante, porque temos de dizer aos outros que a cultura agora é merda, e que são livres, livres para fazer a cultura que quiserem, para pegar na cultura que já viram se quiserem, porque como ela está nos esgotos e não nas estantes, ninguém se vai lembrar dela, ou se se lembrarem, vão gostar, porque já não a viam à muito tempo!

Mas eles não querem acreditar, porque os pseudos estão mais bem vestidos que eu e tu, porque os nutrientes da cultura ainda estão no sangue, e toda a gente pensa que eles são os supra-sumos sabe-se lá de quê.

E uma vez que nós lhes dissemos que a cultura agora é merda eles vão a correr comer a merda que os pseudos cagaram, porque aquilo, para eles, é cultura e dizem a todos que comem merda, e mostram a todos que comem merda, porque aquilo é a cultura deles.

E nós ficamos parados, na esplanada da taberna, a ver aquilo e a fazer a nossa cultura, à espera que aqueles que se fartarem de comer merda se juntem a nós, não para fazer a nossa cultura, mas sim para fazerem a deles, para não terem medo de serem livres.

Nós lutamos tanto pela liberdade, e agora temos medo de ser livres...

E eu saio, e vou ter às estantes da cultura, e lá fico a inalar o ar da estupidez e o pó da ociosidade...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

1500madc

Aqui permaneço, tal qual uma toupeira, 1500 metros abaixo do chão que tu pisas, é tão bom aqui, a sério ninguém me chateia e só deixo entrar quem eu quiser...

Passaram-se 3 séculos e meio desde que a última pessoa que cá esteve saiu e eu habituei-me a estar com a solidão deitado a fumar o meu cigarro e a beber o meu whisky e a ver as pessoas da superfície a andarem, umas felizes, outras nem tanto, but life goes on...

Até que no dia 7 de Setembro de 2305 tu, não sei como entraste com a força e certeza de algo que eu jamais vira, e eu fiquei ali a contemplar a beleza da tua coragem de entrar onde jamais alguém ousara entrar sem ser convidado, mas tu, com os teus olhos cor de sabe-se lá o quê tinhas que entrar a matar (no sentido literal da palavra).

Mataste a minha bela ociosidade, aquela que eu tanto gostava, de ficar a ver as pessoas da superfície através da clarabóia de 1498 metros e do meu periscópio roxo com detalhes prateados.
Mataste o tempo que eu perdi a desafiar as leis da vida, humanidade e sentimentos
Mataste as minhas leis, pondo-nos numa selva sem regras, 1500 metros abaixo do chão
E, mais importante de tudo, fizeste o que eu nunca consegui fazer, mataste as memórias que tinham mais de três séculos...

E deixaste um rasgo na bolha que me envolvia, fazendo assim com que eu me juntasse ao que era externo a mim, às outras toupeiras que me rodeavam...e sabes que mais? Até gostei.

E estamos os dois cá em baixo e, de toda a gente, toda mesmo, aqueles que existem, existiram, e existirão, és a única que tem coragem para me perguntar, tu, na tua brava fragilidade, és aquela que desafia tudo mais do que eu desafiei, e és a única que me consegue olhar olhos nos olhos e perguntar:
-Queres ir lá acima?
-Não.
-Está bem.

Não quero, porque tenho medo de perder o teu cheiro, que a tua pele escureça com a luz do sol, que te lembres que a superfície é muito melhor que a minha toca, a NOSSA toca.

Mas eu sei que vamos ter que ir lá acima, eu sei, mas no fundo, não quero saber...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pura estupidez

Era uma vez uma rapariga com um vestido azul, uma rapariga tão pálida de tão bela que era, uma rapariga com uma pele tão macia que desafiava a maciez do amor maternal. Tinha uns olhos tão negros e profundos que te chegavam ao tutano do esqueleto dos olhos da tua alma, e um cabelo tão liso e tão negro que te punha na dúvida se era real ou um fruto da tua mais caprichosa imaginação. Aliás toda ela te punha nessa dúvida.



A voz dela soava a mel com algum ser celestial, mais celestial que o ser em que tu acreditas que te governa. Quando ela passava deixava uma aura invisível de um cor-de-rosa quase visível, fazendo com que todos os rapazes citassem os Beatles ("há algo quando ela se move que me atrai mais que qualquer outra, algo que quase comove..."). E apesar de ela ser tão bela, e de parecer tão frágil, ela saía à rua como se fosse a rocha mais dura do ambiente mais àrido.



E todos a queriam, mas eu não, eu não.

Eu, na minha esperta estupidez, queria ser o diferente, o que não ia olhar para a rapariga do vestido azul, e só pensava nela, na sua pele, nos seus olhos e em como não podia olhar fundo naqueles olhos, como não podia cair no erro de beijar aquela pele suave e branca, e de sentir aquele cheiro, tão doce como as tuas mais açucaradas recordações.

Mas de não sei quantos homens no mundo, ela foi-me escolher a mim, o idiota chapado que queria ter uma mulher feia, gorda e com verde nos dentes, e olhou-me fundo, com aqueles olhos que me furaram de um lado a outro o tutano do esqueleto dos olhos da minha alma, e caí aos pés dela, e com a força de mil exércitos de todas as gerações de todos os mundos, beijei-a com o toque gentil da pena mais leve do pássaro mais gracioso.

Mas o que ela não sabia, é que eu não sou de cá e tinha que ir, tinha que ir para a minha terra da minha estupidez, e cingir-me ao meu egoísmo deixando-a sem olhar para trás, sem ver o esvoaçar daquele vestido azul, as lágrimas a saírem daqueles olhos, a escorrerem-lhe pela cara doce e branca, e parti.

Prometi-lhe que ia voltar e o prometido foi de vidro...e partiu-se.

E o vestido azul passou a vermelho porque estava manchado de sangue

terça-feira, 29 de junho de 2010

Fumar Mata

Cansei-me das grandes ideias, de escrever sobre grande temas, de fazer grandes aparatos, essas coisas já estão faladas demais, tudo o que há para dizer já foi dito, e o que ainda não foi, eu não sou bom o suficiente para o dizer.

Cansei-me de lutar, de nadar contra a maré, de correr em sentido contrário, aliás, já mandei isto tudo tantas vezes à merda, que me cansei de o fazer.Já está toda a gente a correr em sentido contrário, o que fez com que criassemos um sentido, e eu, que queria contrariar o sentido anterior, estou no novo sentido, e isto faz-me, mais uma vez querer andar em sentido contrário. Só que desta vez, se quiser andar em sentido contrário, tenho que ir para o sentido que inicialmente não queria ir. Por isso paro.

E vejo-vos todos a cair

um

por

um

atrás

do

outro

.

.

.

E é claro que há sempre um ou dois inteligentes que fazem como eu, e param, e riem-se a ver os outros cair, uns atrás do outros em direcção a um buraco negro que os leva sabe-se para lá onde e como...

E enquanto eu me delicio com esta maliciosa ociosidade, tu estás a cair, e eu estou-te a ver... e até te podia dar a mão e puxar-te, mas as tuas mãos são tão macias e os teus olhos tão brilhantes, que sei que não conseguias ficar muito tempo parada, na ânsia de quereres ir comigo ser alguém logo, irias-me arrastar para um sentido, coisa que eu não quero.

Por isso paro. E sou um filho da puta de um egoísta porque não quero dar a mão a ninguém, porque quero estar parado, sério é o que eu mais quero no mundo! Quero parar e olhar para este monte de esterco, que nem para esterco serve e, por isso, cai fazendo as minhas delícias.

E no meio disto tudo, puxo de um cigarro, que é o último cigarro do meu último maço, o último cigarro que eu vou fumar com a lentidão e o prazer de ser o último, meto-o à boca, meto a mão ao bolso para tirar o meu pequeno isqueiro vermelho, e quando estou prestes, mas mesmo quase a acender o cigarro, tu passas como um raio de sol mais brilhante que o o raio de sol mais brilhante do dia mais solarengo do ano mais quente de sempre. E, admirado com aquilo, deixo cair o cigarro, aquele último cigarro que eu queria mesmo fumar.
E, empurrado pelo meu irracional vicio, lanço-me no sentido (não sei qual) à procura do cigarro, e vou morrendo aos poucos, sem o conseguir encontrar...

E é desta maneira que fumar mata...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O amor é lindo

O AMOR É PARA OS TANSOS, OS IDIOTAS, OS FALHADOS, OS CONINHAS!
E se pensarem bem, isto é mesmo verdade, afinal qual é a ideia de vivermos em função de outra pessoa que não conhecemos de lado nenhum? Ó seu idiota, se tu fores a pensar bem essa pessoa que tu dizes que é tudo na tua vida, e que te vai acompanhar para sempre, praticamente veio do mesmo sitio que eu, e tu não me conheces de lado nenhum! Só porque ela tem um palminho de cara, e umas mamas jeitosas já gostas mais dela do que de mim? És um filho da puta que só se interessa pelas aparências!

E no entanto, essa pessoa de carinha laroca e mamas jeitosas, acha-te a melhor pessoa do mundo, porque dizes que a amas, e ela derrete-se toda porque não percebe que tudo o que queres é tirar-lhe as cuecas e mais sabe-se lá o quê!

E repara, é isto que tu queres, ela sabe que é isto que tu queres, mas está tudo bem, porque entre vocês há um amor imenso que nunca mais acaba...

Nunca mais acaba até ela te encontrar todo nu e suado em cima de outra gaja, a "amá-la", tanto ou mais quanto amas esse teu mais-que-tudo. E ela deixa-te, porque a merda do amor é tão boa, que tens que ser um cabrão de um egoísta e dá-lo só a uma pessoa, só podes amar uma pessoa... e sabes o que dizem? Dizem que o amor é partilha...

Partilha seus filhos da mãe? Chamam a uma pessoa perseguir outra incessante-incansavel-estupidamente? Chamam partilha a uns lindos olhos não me deixarem respirar, uns lindos olhos prenderem-me a eles e atirarem-me para o abismo que não é sem fundo, antes fosse, assim nunca iria levar a pancada, mas para um abismo com um fundo que é fundo como o caralho e quando bates profundamente naquele fundo, sentes uma funda dor nos teus mais fundos pensamentos? É a esta merda que vocês chamam amor seus cretinos?

Rotular alguém, como se fosse um produto, como se o tivesses comprado, dizer que é meu o é teu, apoderares-te de alguém, como se fosse uma coisa?

E depois disto tudo, nós, os prodigiosamente imbecis seres humanos, ainda nos achamos superiores por sentirmos amor. Vão-se foder, não gozem com a puta da minha cara seus cabrões!

Mas no fundo disto tudo, no fim de desafiar todas as leis do sentimento amoroso humano, há uma coisa que me assusta: é que começo a sentir-me um tanso, um idiota, um falhado, um coninhas...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Armas de fogo

Não há homem que tenha uma arma na mão e não puxe o gatilho, é verdade! E isto não é nada, mas mesmo nada preocupante, aliás para mim até é reconfortante. Assim já sei o que vai acontecer, já sei que levo com um tiro nos cornos.E tu pensas "não há nada a fazer", mas há! Deixa de ser burro e não lhe dês a arma! Quando dás uma arma a um homem é meio caminho andando para o suícidio, porque já sabes que ele vai puxar o gatilho! Mas, se tu tinhas a arma na mão para dar a alguém, quer dizer que a tinhas na tua mão, logo, puxaste o gatilho!

Conta-me lá como foi, quero saber! Não, claro que não quero puxar nenhum gatilho, quer dizer às vezes tenho vontade, mas é uma vontade pequenina, que quase nem se vê, às vezes tenho e nem dou por ela, para tu veres o quão pequena ela é!Adiante, conta-me como foi puxar o gatilho, foi bom, foi mau, deu-te vontade de ir à casa de banho? E disparaste contra quem? Um desses cabrões que andam aí a foder toda a gente por trás? O quê? Era uma arma de plástico? Mas 'tás a brincar com a minha cara ou o quê? Eu estou a falar de armas a sério! Armas que poderiam resolver os nossos problemas, se não fossem elas a criarem esses problemas!

Sim, armas de fogo! Bem, elas não são mesmo de fogo, são de metal e outras coisas, mas chamam-se armas de fogo! Porquê? Sei lá, tu é que estavas com uma arma na mão! E aposto que puxaste o gatilho!
Não? Então não és homem, não és humano! Ah bom, és mas tens vergonha de o ser, tal como eu... Queres ajuda? Eu ajudo,

um gatilho não se puxa, prime-se...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Merdaebolasdesabão

Ontem fui atacado por uma arma de bolas de sabão.
Mas não eram bolas de sabão quaisquer! Aquelas tinham cheiro!
Queres saber a que cheiravam? Cheiravam a relva cortada de fresco, mas relva que era mesmo cortada, não aquela que vem uma lata de aerosol que nos come o mundo em que vivemos! E haviam umas bolas azuis, muito grandes, que cheiravam ao mar daquela praia em que estivemos, sim, aquela em que demos o primeiro beijo, lembras-te? E havia umas assim muito, muito, muito mas mesmo muito pequeninas, cor de rosa, que cheiravam às margaridas daqueles grandes campos em que nos deitavamos a torrar ao sol, e a fazer os nosso planos até ao dia em que os nossos corações deixassem de bater, ao mesmo tempo, como naquele filme que vimos.
E eu sei que parece estúpido estar a fazer estas acusções, como se me importasse de ser bombardeado de cheiros que me recordam as tuas recordações mais doces(pelo menos por fora), mas é verdade! Isto atacou-me mesmo!
Atacou-me porque me fez lembrar, que, não sei porquê, perdi-te de uma maneira estupidamente racional, controlada e perfeita, e agora, agora estou preso, neste balde de merda e rodeado de bolas de sabão com cheiros que me iludem, contrastando com a merda que vejo!
E queres saber o que fiz depois de ser atacado?
Suicidei-me... com uma bisnaga.

O soneto dos rejeitados

Eu sou o filho de uma bebedeira e um preservativo roto,
Ela é a filha de um divórcio e de um morto
Temos os dois relações puras,duras,carnais
E no fim vou-me embora, e não temos que mentir mais

Eu sou o neto da ira e da pobreza
Ela é a neta da raiva e da tristeza
E nós gostamos um do outro, temos coisas em comum
Mas não somos obrigados a dizer que somos um

E não consigo ficar com o coração despedaçado
Não, não consigo sentir essa dor
Sabem porquê? PORQUE DEIXEI DE ACREDITAR NO AMOR