As estantes da cultura estão vazias com o ar da estupidez e o pó da ociosidade. E não há viv'alma que as encha com o prazer de fazer e criatividade, não há quem faça por fazer, não há quem faça para fazer, em vez disso fazem para mostrar que são, que têm cultura, e estes pseudo-pseudos(porque são tão pseudos que não chegam nem a ser nada sequer) têm tanta cultura, que de tanto ter, esvaziaram as estantes!
E o que é que estes cretinos vão fazer com a cultura que tiraram toda das estantes? Comem-na, enfardam-na como se não houvesse o próximo amanhecer, e têm que comer toda a cultura das estantes da cultura nesta noite. Em vez de pegarem em toda a cultura das estantes e partilhá-la fazendo com que todos tenham um bocado de cultura, estes idiotas chapados são egoístas e comem a cultura toda e, como manda o processo natural digestivo animal a cultura é transformada em merda, e agora, toda a cultura que tinhamos, está nos esgotos, em formato castanho e nojento, e a cultura, que era tão venerada pela sociedade, é agora rejeitada, posta debaixo dos nossos pés para todos a calcarmos e todos sermos superiores à cultura, todos mesmo, sim, toda a gente, até esse.
E é impossível repor a cultura toda nas estantes, porque aqueles que tinham um bocadinho de cultura, que foram buscar à estante está guardada, não num pedestal, mas dentro de nós, absorvida pelos nosso olhos, ouvidos e mente, essa cultura deixou de estar nas nossas mãos, e passou a estar em nós, essa cultura somos nós.
E nós como cultura que somos, não podemos ir e ficar parados na estante, porque temos de dizer aos outros que a cultura agora é merda, e que são livres, livres para fazer a cultura que quiserem, para pegar na cultura que já viram se quiserem, porque como ela está nos esgotos e não nas estantes, ninguém se vai lembrar dela, ou se se lembrarem, vão gostar, porque já não a viam à muito tempo!
Mas eles não querem acreditar, porque os pseudos estão mais bem vestidos que eu e tu, porque os nutrientes da cultura ainda estão no sangue, e toda a gente pensa que eles são os supra-sumos sabe-se lá de quê.
E uma vez que nós lhes dissemos que a cultura agora é merda eles vão a correr comer a merda que os pseudos cagaram, porque aquilo, para eles, é cultura e dizem a todos que comem merda, e mostram a todos que comem merda, porque aquilo é a cultura deles.
E nós ficamos parados, na esplanada da taberna, a ver aquilo e a fazer a nossa cultura, à espera que aqueles que se fartarem de comer merda se juntem a nós, não para fazer a nossa cultura, mas sim para fazerem a deles, para não terem medo de serem livres.
Nós lutamos tanto pela liberdade, e agora temos medo de ser livres...
E eu saio, e vou ter às estantes da cultura, e lá fico a inalar o ar da estupidez e o pó da ociosidade...