segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

P.O.

As canetas são obsoletas.
Os papéis são só papeis.
Adoro escrever.
Minto.
Odeio escrever.

Os papéis e os formatos digitais não são nada,
Eu gosto é de pensar.
Eu gosto de sentir.

A literatura não é nada.
A música não é nada.
A dança não é nada.
O teatro não é nada.
O cinema não é nada.

Porque todos não são nada.

São tudo.



Que é nada.
Comparado à arte que faço.

A arte de sentir,
A arte de ser.
A arte de te sentir,
E de te ser.

Tecer tapeçarias dos nossos momentos, feitas com os nossos cabelos.
Tirarmos planos amercianos dos nossos beijos
E teicocospias dos nossos abraços,
E dos teus olhos que brilham
Como diamantes.
Apanham-me em fogos cruzados
Entre o pensamento e o sentimento
E o pensamento quer ganhar
Mas o sentimento luta com força.
Mas não interessa se jogaste bem.
Interessa os golos que marcaste.
Não interessa se estavas a dois centímetros dele.
Interessa que perdeste a corrida.

E o pensamento age,
E o sentimento pensa

E fico anti-natureza.
Sinto-me uma besta,
Uma aberração!
O Polifemo,
Burro e cego,
Mas poderoso,
O Adamastor.
Doente de apaixonado,
Mas respeitado.

E sei que poder e respeito
É o que os génios mais têm.
E como já me são concedidos através das minhas legítimas comparações,
Sei que vou ser um génio.
Sei que sou um génio.
Só preciso de arranjar uma desculpa para o dizer.




quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Mary Tinha Um Cordeirinho.

Quando formos feras vamo-nos esquecer de nós.
Daquilo que passamos juntos, e que queríamos passar.
Um dia, se o houver, quando formos avós
Vamos ter uma história diferente para contar

Uma que não é a nossa, porque nós deixamo-la de parte
Porque eu era um idiota, e tu não.
Tu estás sempre certa. A tua é sempre a melhor parte,
Pura como a tua alvura depois da escuridão

E eu um dia vou-me esquecer,
Os processos e as condições sociais vão toldar-me como eles querem
Tornando-me num bicho em mais um rebanho
Ou manada
Ou cardume
Ou bando
Ou tudo
Menos multidão

E aí vais-me ver
E eu vou poder apontar-te o dedo e dizer que a culpa é tua
E com razão.
Mas aí já nada vai interessar.
Porque eu me esqueci
E não quis mais saber de lembrar

Eu já não queria mais saber
Porque tu querias saber

E quando o meu corpo estiver gasto
E eu morrer sozinho
Num caixão de prata que todos que estão lá me deram

Tu vais querer saber.
Mas eu não. Porque já não sei ( e sou)

domingo, 9 de outubro de 2011

Eu vi, e tentei agarrar (mas não consegui).

E a nossa história acabou.
Assim. Sem aviso prévio.
Não me avisaste a mim.
Eu não te avisei a ti.
E ficamos assim,
Sem saber o fim.
Ou se o há.

E só nos resta compilar os momentos que passamos,
os bons e os maus.
Os bons para saborearmos,
E os maus para aprendermos com eles,
Se quisermos.
Se não, só nos resta voltar a ser estúpidos de novo
Da maneira que quisermos.
Porque isso é ser verdadeiramente estúpido.
Pensar que somos quem queremos.
E cair na ilusão de que somos verdadeiramente felizes
Arranjando débeis desculpas esfarrapadas
Para justificar a nossa suposta felicidade sem razão aparente.

Mas nós não somos felizes,
Nós nunca somos felizes!
Pensamos que somos felizes porque recorremos a parvas teorias minimalistas,
Mas os problemas estão lá.
Adormecidos,
Ou escondidos,
Ou a fazerem-nos uma emboscada.

E quando eles nos atacarem,
Quando eles saírem das árvores de copa negra tingidas pela noite
Vão ter a faca e o queijo na mão
Porque sabem que vamos querer tudo de volta.
E aí,
Dão-te o queijo para te empanturrares,
E abrem-te com a faca.

Que é fraca,
Mas naquela altura,
Tenho a certeza que vai ser mais forte que tu.
Sejas tu quem fores.

domingo, 2 de outubro de 2011

Nova Mensagem

Pessoas, sociedade, dinheiro, amor. Cultura, nós, outro. Ódio, álcool. Droga. Guerra. Paz. Amizade. Arte. Tudo isto importa. Tudo isto são as leis da nossa vida. Ou sim. Ou não. Na nossa vida não há leis. Há uns tempos li num cartaz infantilmente escrito, com cores infantis, colado de maneira infantil, talvez porque a mensagem é (não sei se deixou de ser) grande de mais para caber numa só folha. "The wall is just in your head". Era o que dizia o cartaz, que poderia perfeitamente ser escrito por uma criança, se não fosse o facto de estar numa língua que lhe poderia ser estranhamente esquisita (mas os putos hoje já sabem tanto tão depressa que nem essa hipótese ponho de parte). É uma mensagem básica que alguém com dois dedos(que podem ser dos pequeninos) de testa percebe. As barreiras estão na nossa cabeça, as leis estão na nossa cabeça, a sociedade está na nossa cabeça. Está tudo na nossa cabeça. E quem é que manda na nossa cabeça? Pois, não é preciso responder. A resposta já é um chavão, tão grande que já nem abre porta nenhuma, e não nos serve de nada (mas isso está só na nossa cabeça).

Então por que nos preocupamos? Por que procuramos? Por que amamos? Para que serve o amor? (era esta a pergunta que te queria fazer noutro dia, quando não era eu). Sim, eu agi mal. E depois? Tu também, e tu, e tu, e tu! Pode não ter sido ontem, pode não ter sido a semana, o mês, o ano passado, mas já agiste mal. E há uma altura em que de certeza podes ter agido mal. O futuro. Portanto de que te adianta estar a julgar-me? Ou julgá-lo, ou a julgar-te. Toda a gente erra, e qual é a surpresa? Vamos parar de viver por causa disso? Vamos deixar tudo o que tivemos para trás? Todas as palavras, todos os olhares, todos os sentimentos? Podemos fazê-lo, porque afinal as barreiras estão só dentro de nós e como nós mandamos podemos quebrá-las facilmente, sem sequer nos levantarmos. Mas a questão é de que raio nos adianta? Quando nos chateamos com alguém, seja essa pessoa quem for, é tão bom ver como o facto de andarmos com cara de pau, e ainda por cima podre, resolveu tudo, até quase que resolvia os grande problemas mundiais.

Portanto, não te chateies, vive. Sê. Não te condiciones por ninguém, só tu mesmo. E às vezes, caga para ti e sê algo imaterial. Ou não. Se quiseres podes cerrar a tua mente ao que eu escrevo, fazendo com que isto sejam só luzinhas no ecrã de um computador, ou pedaços de tinta num papel, ou palavras ocas na tua cabeça, ou sons ocos na tua cabeça, ou tentativas de sons ocos a entrarem na tua cabeça.

Tu és livre. Mas não te esqueças de que eu também sou.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A Glorificação da Raiva.

Senhores, contemplai! A fabulosa, a magnífica, a gloriosa, a majestosa RAIVA! Sim, essa que vos faz tremer por fora e ainda mais por dentro! Sim, essa que vos turva a visão e vos cega, fazendo com que não vejam quem querem estripar, mesmo que essa pessoa sejas tu. Sim, agora falo só para ti, ó Raiva gloriosa, que me mostraste o outro lado de mim, aquele lado sedento de sangue mental, com vontade de quebrar crânios psicológicos com as minhas próprias mãos. Casa-te comigo Raiva, que foste tu que me mostraste o lado negro da minha lua, aquele que toda a gente diz que é igual ao lado iluminado, mas todos sabem que não. Todos sabem o que lá vive mas ninguém quer dizer, todos têm medo de denunciar algo sem querer. E eu, graças à minha linda e querida noiva, fui lá e vi. Eu vi. Eu. Vi. Vi com este dois olhos, que a terra há-de comer, e vi também com os olhos da minha alma, esses que não se sabe se os come a terra, ou o ar, ou se chegam a ser comidos sequer.
Querem saber o que vi? Não queiram. Não é horrível. Antes fosse. Antes fosse a visão mais horripilante que eu já vi e fosse ver, quem me dera que fosse. Eu queria que fosse um monstro com dois metros e meio de altura, tão horripilante como tu o imaginas, com esse olhar que te faz querer morrer, e ainda achar que é pouco. Mas não foi isso que vi. O que a raiva me mostrou foram todos os meus sonhos tornarem-se realidade, eu a ser a pessoa que sempre quis ser, com todas as riquezas (físicas ou não) que sempre quis ter. E aí, abri os olhos pela primeira vez, aí eu respirei pela primeira vez, aí eu nasci.
Esta é a alvorada pela qual eu esperava! A alvorada negra de tão dourada que é, a alvorada que me cegou, tal como se eu estivesse num acesso da raiva mais pura, mais doce e mais saborosa que tu possas imaginar. Ah que bom que é sentir esse sabor nos meus dentes, e sentir o meus dentes aguçarem-se para poder decapitar mentes sãs (numa tentativa de me tornar são).
E agora fujam, escondam-se (ou tentem), corram, implorem,ofereçam! Não o façam porque voltei, mas façam-no porque nasci!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Acorda.

Acorda,
Acorda que já é hora,
E as pessoas estão à espera.
Tens que soltar essa fera
Que não quer sair
Porque não sabe se é o ratinho mais pequeno e insignificante
Ou se o leão mais feroz e possante,
Porque nunca abriste os olhos para ela se ver

Acorda, não faças como eu,
Que me escondo num reino de fumo e breu.

Mas já estou farto de fumar
E quero ver a luz,
Aquela que nos faz andar,
Aquela que nos produz.

Acorda rápido que eles precisam de ti!
E tu não levantas um dedo, não sais daí!

Acorda que estou cheio de falar sozinho e para mim!
Acorda que já dormiste até ao fim,
E pára de me fazer falar com a minha pessoa,
Quanto mais converso sei que ela não é tão boa,
nem feliz,
nem charmosa,
nem inteligente,
nem criativa nem coerente!

Por favor, acorda, estou quase a chorar!
E tu na mesma sem fazer nada,
Só aí,
A bocejar.

É a última vez que te peço,

Levanta-te,
Lava a cara e os dentes,
Veste-te,
E sai desse teu abrigo.

Mas por amor de Deus,
Acorda,
Acorda que eu não consigo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

I have become comfortably numb...

A chama que acende a minha lareira apagou-se,
Assim sem me dizer nada!
A vontade esgotou-se
Deixando uma carcaça gelada.

Pesam-me os braços,
Por isso não os hasteio
Como faço à bandeira dos desnorteados,
Aqueles que como eu,
Estão (estiveram ou vão estar) cansados

Já não me importo com nada.
E nada se importa comigo.
Espera, é mentira.
O nada importa-se, entre outros.
Coitados, não sabem que é tempo perdido,
Esperemos que cheguem a tempo, antes de ter ardido

E eu sou o que mais espero,
Espero para que algo me acorde,
Algo maior que eu, algo maior que tu
Algo maior que nós, e até que vós
E que voz. Pelo menos a minha,
Que já é fraca
E já não diz nada.

Ou se calhar é forte, mas não quer que o saibam,
Porque as pessoas, quando sabem que alguém é forte,
Ficam à espera que ele faça alguma coisa,
E ela não quer fazer nada, tal como eu.

Ora bem, não sei se quero fazer tudo ou nada,
Não sei se quero o que quero,
Acho que é por isso que espero!
Eu estou à espera de querer
Acho que é isso.

Acho que vou acabar de escrever aqui,
Porque já nem quero dizer o que quero.

(e saio, sonolento e enevoado,
será que tenho que me magoar
para ficar acordado?)

sábado, 29 de janeiro de 2011

As iludências aparudem.


De todas as desgraças, a que mais me assusta é a felicidade. Não sei porquê. Talvez porque está de mão dada com a esperança, onde menos se espera. Talvez porque quando a vejo não sei o que fazer, o que dizer, o que sentir. Talvez porque, com tanta infelicidade no mundo, não tenho com quem a partilhar.

Ser feliz é mesmo fodido, nem sei porque tanta gente de tanto sítio quer sê-lo de maneira febril e incansável. A felicidade é uma febre que te amolece como os cereais no leite azedo e morno. A felicidade é um conjunto de correntes de abraços, algemas de beijos e grilhetas de carinhos que te prendem à cama do ócio. A FELICIDADE É UMA MERDA. Não te deixa fazer nada, deixa-te entorpecido e abalado, a olhar para ela com o seu cabelo platinado e a sua pele macia e branca, e o seu corpo escultural e bem formado.

A tua sorte é que a Felicidade já é feliz, e tem tudo o que quer porque senão, roubava-te tudo!

Tu? Tu és um imbecil! És um idiota, só tens merda na cabeça, estás gordo, feio e inútil!
Tu pensas que és o maior, mas não és nada, pensas que fazes, mas não fazes nada, pensas que és MAS NÃO ÉS NADA!

E eu quero escrever, quero compor, quero cantar, dançar, fazer, criar, mas não posso porque a Felicidade colou as minhas mãos às dela e a sua boca à minha. A PUTA DA FELICIDADE NÃO ME DEIXA FAZER NADA!

E depois de ter gritado, grunhido, rosnado e esperneado, deito-me na cama do ócio. Acorrento-me. Com abraços. E beijos. E carinhos. E espero até poder escrever. Compor. Cantar. Dançar. Fazer. Criar












[agora pensem como é que eu sei isto tudo]
Obrigado.