sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Nirvana

Todos falam de chegarmos a algum sítio, de fazermos algo, de escalar uma grande montanha por exemplo, ou de fazer uma avassaladora caminhada, todos falam em nirvanas, picos existenciais e concretizações pessoais, mas no meio destes "sábios" todos, não há um, uma única alma que fale no que é suposto fazer depois de chegarmos à montanha, ou de acabarmos a caminhada, e eu, na minha enorme minoria, pergunto simplesmente porquê?

Será porque não conseguiram? Se calhar não, há montanhas tão difíceis e caminhos tão tenebrosos que não ficaria nada espantado se não conseguissem, e como não conseguiram, não conseguem contar como foi conseguir, porque não conseguiram. Ou até conseguiam, mas morreram pelo caminho, mas acho que isso faz com que não conseguissem...

Mas será que há gente que conseguiu? O quê? Há?! Então se conseguiram por que não nos dizem o que fazer? Será que é pior do que estamos à espera? Será que no cume da montanha é frio e solitário, e temos que respirar ar rarefeito e, afinal de contas, devemos ter pouco equilíbrio, porque aquilo deve ser um bocado inclinado. E se calhar aquelas pessoas que querem escalar uma montanha no fim estão à espera de um sítio fofo e quentinho, e plano já agora, e as outras pessoas que já conseguiram não dizem o que a montanha é de verdade, talvez para não as desiludir, ou porque encontram alguma espécie de gozo em verem as outras pessoas subirem, para depois ficarem desiludidas.

Mas ainda podemos ter outra hipótese, aqueles, que chegaram ao cume da montanha, e acharam uma beleza naquilo e queriam contar a todos a beleza daquele sítio àrido, mas morreram ou enlouqueceram, devido à beleza retorcida e bizarra daquele sítio que tinha ventos rápidos e calmos, acompanhados de um frio acolhedor e familiar, e tudo era bom ali, estar sem comida, àgua e a carregar dois cadavéres de amigos teus era simplesmente perfeito, naquele lugar tão íngreme como a minha sanidade...

Mas a minha principal questão é por que é que o meu maior feito tem que ser estar com frio fome e sede a não sei quantos metros de altura? Por que raio há-de ser o meu cume existencial sair de uma selva débil e fraco quase a desmaiar e com os pés numa bolha? Porquê? Não posso simplesmente querer ser, viver, estar? Por que é que o meu Evereste não podem ser os teus lábios? Um sorriso teu quando dermos o último beijo, ou o teu cheiro que eu não quero perder?
Por que raio não pode ser o meu maior feito amar-te?

Eis que então, movido pela minha ingénua coragem, avanço caminhando para os teus beijos e escalando para os teus sentimentos, e chego ao cume, eu chego ao teu cume, sentado no topo do meu mundo, tal como tu chegas ao meu cume, sentada no topo do teu mundo! Mas sabem uma coisa?

Comparado com isso, o Evereste é um degrau de uma escada, a escada na qual eu estou no topo. Agora imaginem onde eu estou...



Obrigado.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

(mais) Peças

Não sou realista, a realidade é uma merda.

Turbo Lento

Estou sujo de ti, e não me quero lavar, não quero que o teu cheiro saia do meu, tenho medo de o esquecer, tenho medo de perder os teus cabelos que estão presos nos meus, tenho medo de ficar demasiado tempo sem te beijar e de perder a tua saliva, tenho medo de te esquecer, porque sei que é possível, e se me lavar vou ficar sem o teu cheiro e os teus cabelos, e como te vou esquecer, nada me vai ligar a ti, e vai ser como se nunca tivesses existido!

Por isso fujo numa tranquila turbulência, fujo da minha mãe, porque se ela me encontra, vai-me obrigar a tomar banho, e eu vou-te esquecer, e eu não te quero esquecer!

Escondo-me nos recantos mais obscuramente negros da alma da minha mente, junto daquele Eu que ninguém conhece, ninguém mesmo, nem eu, nem Deus... Bem, talvez Deus já o tenha visto e dito olá, mas foi só uma vez.

E enquanto estou escondido, desfruto do teu cheiro que está em mim, degustando ainda mais pelo facto de ser proíbido, pelo facto de ser suposto eu já ter tomado um belo banho com shampôs de marcas e bolhinhas bem cheirosas, acompanhadas de esfregadelas bruscas e suaves espumas sob àguas não naturais de tão bem que cheiram.

Mas, se tu voltares a abraçar-me e, quem sabe, a beijar-me eu posso tomar banho porque mesmo que perca o teu cheiro, vou voltar a tê-lo, através do teu abraço, e para ir ter contigo, tenho que tomar banho, caso contrário, não vais querer abraçar-me.

E então eu, que estou no recanto mais escuro da alma da minha mente, fico sem saber o que fazer, se morro cá a desfrutar do teu cheiro, ou se me entrego às vis garras da minha santa mãezinha e o seu maléfico sabão.

E é então que me lembro de uma coisa que a minha mãe me disse...


Podes fugir mas




nunca



te vais





poder








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