E o primeiro a morrer.
A pele ficar-me-à mais perto dos ossos
Os olhos mais encovados,
A barba mais aparada,
O cabelo mais penteado,
a camisa mais bem lavada
e o sobretudo mais recente.
Aparecerei com uma mulher diferente todos os Natais,
Que será diferente da da Páscoa
E dos anos do meu sobrinho mais novo.
Vou obrigar os meus amigos e entes a verem-me num caixão
E provavelmente os meus pais também.
Provavelmente vou ser a constante mais variável de todas.
Os meus pulmões vão ficar negros,
O meu fígado empapado
E os meus neurónios comidos.
Pelas culpas e pelas desculpas que eu tentei
E consegui ou não.
A minha visão vai ficar mais afectada
E por consequência a minha mente também.
E vou-me mentir todos os dias,
Para ver se acredito que tinha que ser assim.
Mas nunca fui grande mentiroso.
Mas se calhar não.
Se puxar o gatilho desta vez.
Apontando para o meio
Apontando para o tudo talvez consiga acertar.
Com a última bala de prata com sal
Que pode acabar com todo mal que tenho.
Talvez consiga matar os meus demónios!
Talvez eu vá conseguir,
Com o último cartucho do meu revólver
Atirar para o tudo ou o nada,
Premir o gatilho pela última vez.
E depois disso,
Ou a glória ou a escória.
Só aí pertencerei.
Não haverá intermédios.
Não haverá meias palavras.
Esta bala é tudo o que tenho,
Nem revólver,
Nem dedo,
Nada.
Só a bala
E a vontade de disparar.
Pum.