sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Olá Tristeza, até já.

O pior choro é aquele em que não se derramam lágrimas, e é assim que choro por ti, não sei porquê mas é, nem sequer sei porque choro quando sou eu que nos mato, sou eu que espeto a única faca no combate do nosso amor que nunca chegou a ser unificado, sou eu que digo as expressões que dizem tudo e nada, mas significam mais nada que tudo.
Esta faca que me mata a mim e a ti é longa, longa como a distância que nos separa e nos afasta, aproximando-nos do fim do início de outro combate que de certeza temos que travar, e é tão pontiaguda como a baioneta que acabou com o combate que travávamos e que fez com que caíssemos no fatal descanso do mortal conforto da nossa almofada.
O veneno que me põe ébrio é tão forte como o perfume que me atraiu para a armadilha que me amputou o pé e a corda que me marcou o pescoço e tirou o ar, mas a que ainda sem forças consegui sobreviver só para beber mais um trago desse veneno.
E no fim de estar no descanso imposto pela faca e cheio de fármacos que me são impostos pela sociedade, penso em mim e em ti, não em nós, mas em ti e em mim e quando me perguntam se dói respondo


"Só dói quando respiro."








Olá Tristeza, até já.

domingo, 24 de outubro de 2010

Peças IV

Tranquei-me a sete chaves para que eu pudesse sair à rua.

Peças III

Não choro os mortos que estão no caixão, choros antes os mortos a que ainda lhes bate o coração.

domingo, 10 de outubro de 2010

When you ain't got no honey, you've got the blues

Hoje não quis acordar, simplesmente achei que não era digno de pertencer ao fruto dos ramos da árvore que dá a vida, nada fazia sentido, já não tinha mais nada para sentir, ver, ouvir, dizer, criar, por isso a solução mais sensata seria sair daqui. Foi como se entendesse todos aqueles que enfiaram uma bala no crânio ou uma lâmina no pulso ou encheram o estômago de químicos até que vomitassem o próprio estômago lentamente e degustando o sabor de morte fresca temperada com sangue, e eu acho que por segundos senti esse sabor, e nesses segundos, ainda houve um momento em que gostei, e nos segundos em que gostei, houve uma ínfima parte, uma partezinha daquela parte que complementava aquela pequena parte em que senti o sabor da morte, que amei mais do que amo qualquer coisa, pessoa ou sentimento, foi o melhor momento da minha vida. O momento em que provei um sabor já familiar e que eu já sei que gosto, o sabor da loucura.

A Loucura... de pele branca, e cabelo loiro com os olhos mais bonitos que tu alguma vez viste na tua vida, no teu passado, presente e futuro, é a mulher mais louca deste mundo, consegue pegar naquilo que tu aches mais belo, encantador e hipnotizante, e transformá-lo em putrefacto, repugnante e cheio de banhas, consegue fazer-te ver pegadas no tecto e mais do que isto tudo, se lhe souberes pedir, muito, mas muito devagar, ela faz-te ver o verdadeiro, o único e real amor.

Mas enquanto beijo os lábios suaves da Loucura, lembro-me da minha fuga da árvore da vida e começo a correr, mas há algo que me prende, e vejo que sou preso não por um grilhão, corda ou músculo, mas sim por um simples brilhar, o brilhar dos teus olhos inchados e encharcados de lágrimas (tal como a minha alma), esses olhos que não me deixam mexer, agora que já estou hipnotizado por eles, as minhas mãos estão atadas com os teus cabelos e eu sou adormecido pelo teu cheiro.

E é aí que percebo, que não posso fugir da árvore da vida, porque compreendi agora que tenho que a trepar, para depois escalar os penhascos do sofrimento para me sentar nas planícies da amizade e sentir o vento do amor. Mas não o posso fazer sozinho, tenho que esperar por ti porque é impossível subir a árvore da vida e os penhascos do sofrimento sozinho.

Mas já disse ao Diabo que me ia matar, e é por isso que fiz um pacto com ele
-Todos os dias farei um corte no meu peito, se me deixares voltar atrás para ir ter com ela.

-Mas apenas quando tiveres cem cortes, poderás ver a sua pele e sentir o seu cheiro.


-Feito

-Feito


E sei que um dia, se o Diabo quiser, vou pegar na tua mão e trepar a árvore da vida, escalar os penhascos do sofrimento, sentar-me nas planícies da amizade e sentir os ventos do amor contigo.

Mas até lá, tenho que viver a minha vida, um corte de cada vez...