Hoje não quis acordar, simplesmente achei que não era digno de pertencer ao fruto dos ramos da árvore que dá a vida, nada fazia sentido, já não tinha mais nada para sentir, ver, ouvir, dizer, criar, por isso a solução mais sensata seria sair daqui. Foi como se entendesse todos aqueles que enfiaram uma bala no crânio ou uma lâmina no pulso ou encheram o estômago de químicos até que vomitassem o próprio estômago lentamente e degustando o sabor de morte fresca temperada com sangue, e eu acho que por segundos senti esse sabor, e nesses segundos, ainda houve um momento em que gostei, e nos segundos em que gostei, houve uma ínfima parte, uma partezinha daquela parte que complementava aquela pequena parte em que senti o sabor da morte, que amei mais do que amo qualquer coisa, pessoa ou sentimento, foi o melhor momento da minha vida. O momento em que provei um sabor já familiar e que eu já sei que gosto, o sabor da loucura.
A Loucura... de pele branca, e cabelo loiro com os olhos mais bonitos que tu alguma vez viste na tua vida, no teu passado, presente e futuro, é a mulher mais louca deste mundo, consegue pegar naquilo que tu aches mais belo, encantador e hipnotizante, e transformá-lo em putrefacto, repugnante e cheio de banhas, consegue fazer-te ver pegadas no tecto e mais do que isto tudo, se lhe souberes pedir, muito, mas muito devagar, ela faz-te ver o verdadeiro, o único e real amor.
Mas enquanto beijo os lábios suaves da Loucura, lembro-me da minha fuga da árvore da vida e começo a correr, mas há algo que me prende, e vejo que sou preso não por um grilhão, corda ou músculo, mas sim por um simples brilhar, o brilhar dos teus olhos inchados e encharcados de lágrimas (tal como a minha alma), esses olhos que não me deixam mexer, agora que já estou hipnotizado por eles, as minhas mãos estão atadas com os teus cabelos e eu sou adormecido pelo teu cheiro.
E é aí que percebo, que não posso fugir da árvore da vida, porque compreendi agora que tenho que a trepar, para depois escalar os penhascos do sofrimento para me sentar nas planícies da amizade e sentir o vento do amor. Mas não o posso fazer sozinho, tenho que esperar por ti porque é impossível subir a árvore da vida e os penhascos do sofrimento sozinho.
Mas já disse ao Diabo que me ia matar, e é por isso que fiz um pacto com ele
-Todos os dias farei um corte no meu peito, se me deixares voltar atrás para ir ter com ela.
-Mas apenas quando tiveres cem cortes, poderás ver a sua pele e sentir o seu cheiro.
-Feito
-Feito
E sei que um dia, se o Diabo quiser, vou pegar na tua mão e trepar a árvore da vida, escalar os penhascos do sofrimento, sentar-me nas planícies da amizade e sentir os ventos do amor contigo.
Mas até lá, tenho que viver a minha vida, um corte de cada vez...