sábado, 29 de janeiro de 2011

As iludências aparudem.


De todas as desgraças, a que mais me assusta é a felicidade. Não sei porquê. Talvez porque está de mão dada com a esperança, onde menos se espera. Talvez porque quando a vejo não sei o que fazer, o que dizer, o que sentir. Talvez porque, com tanta infelicidade no mundo, não tenho com quem a partilhar.

Ser feliz é mesmo fodido, nem sei porque tanta gente de tanto sítio quer sê-lo de maneira febril e incansável. A felicidade é uma febre que te amolece como os cereais no leite azedo e morno. A felicidade é um conjunto de correntes de abraços, algemas de beijos e grilhetas de carinhos que te prendem à cama do ócio. A FELICIDADE É UMA MERDA. Não te deixa fazer nada, deixa-te entorpecido e abalado, a olhar para ela com o seu cabelo platinado e a sua pele macia e branca, e o seu corpo escultural e bem formado.

A tua sorte é que a Felicidade já é feliz, e tem tudo o que quer porque senão, roubava-te tudo!

Tu? Tu és um imbecil! És um idiota, só tens merda na cabeça, estás gordo, feio e inútil!
Tu pensas que és o maior, mas não és nada, pensas que fazes, mas não fazes nada, pensas que és MAS NÃO ÉS NADA!

E eu quero escrever, quero compor, quero cantar, dançar, fazer, criar, mas não posso porque a Felicidade colou as minhas mãos às dela e a sua boca à minha. A PUTA DA FELICIDADE NÃO ME DEIXA FAZER NADA!

E depois de ter gritado, grunhido, rosnado e esperneado, deito-me na cama do ócio. Acorrento-me. Com abraços. E beijos. E carinhos. E espero até poder escrever. Compor. Cantar. Dançar. Fazer. Criar












[agora pensem como é que eu sei isto tudo]
Obrigado.