segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Rei Carlos

  Antes de mais, quero pedir desculpa por qualquer erro ortográfico ou incoerência neste texto. Não estou a ver bem, doem-me os olhos devido ao divórcio dos meus óculos. Enquanto os olhos me doem, vejo as coisas desfocadas. Enquanto vejo as coisas desfocadas, penso na possibilidade de ficar cego. E se, de repente, os meus globos oculares fizessem greve, a retina cortasse relações com a luz, e o cérebro fizesse birra com toda a engrenagem que capta luz transformando-a naquilo que está à frente do meu nariz?

  Primeiro assustei-me com tal invisão apocalíptica, depois sosseguei a pensar que é possível, afinal de contas nunca se sabe quando é que uma empilhadora irá contra um barril de desperdício tóxico que me espirrará para os olhos...
  Quando deixei que o assunto se apoderasse de mim, que fizesse breu na minha mente, reparei que não era nada mau. Afinal dizem que o amor é cego, logo, tudo o que é cego é amor. Será isto mesmo uma falácia? Será que esta lógica está assim tão mal pensada?

  Afinal, toda a gente concorda que as aparências iludem, até a do amor. Quando olhamos para uma pessoa e lhe chamamos amor, só lhe chamamos amor porque vimos quem é a pessoa, e o nosso fantástico corpo, através de mecânicas e físicas reconhece logo, esquecendo as químicas. Se não vos visse, seria muito melhor, pois não teria reacção automática, iria à vossa procura. As minhas narinas iriam tactear o vosso cheiro, as minhas mãos absorver a vossa pele, e nem precisariam de falar, o vosso respirar bastaria, seria como uma voz que não podem imitar ou ocultar e saberia sempre quem são.
  Se cortassem a barba, ou fizessem um penteado diferente, eu não ia passar na rua sem vos dar um beijo ou um abraço, ou dar-vos a mão para passar um bocadinho de calor, só a tentar que o vosso dia seja melhor.

  Àqueles que interessam, àqueles que são, eu não preciso de vê-los. Atirar-me-ia de costas para o abismo, ,de olhos fechados e vendados, sabendo que eles vão estar lá, e me vão apanhar.
  E quando caísse nos braços deles com um sorriso nos lábios, trocaria de posição com eles e ficaria de braços estendidos, sabendo exactamente onde eles iam cair, não de os conhecer tão bem, mas sim de os sentir tão bem.

  Não me importaria de ficar cego. Acho que a maior parte das pessoas tem medo que os outros fujam enquanto elas não vêm, mas eu não tenho esse medo, confio em vocês, e se fugirem...divirto-me a falar comigo próprio, porque vocês dizem que sou boa companhia!
 
  Não me importaria de ficar cego. Se ficasse cego, tinha desculpa para te abraçar. «Ajuda-me que não vejo o caminho» e iríamos os dois, com sorrisos debaixo do bigode a saber que eu tenho a vareta desmontável na mochila e não quero acordar o cão.

  Não me importaria de ficar cego. Dá-me uma certa pica procurar-te...

  Não me importo de ficar cego porque, se algum dia              ficar cego           vou ver as coisas de outra maneira.

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